sábado, 28 de janeiro de 2012

AS VIDAS DE JÉSUS GONÇALVES


O ÓDIO = O TERROR = O INIMIGO
Alarico, O Grande, general e chefe maior dos Visigodos, esmagou Roma no início do século V. Treinado nas técnicas da guerra dentro do Império Romano devastou a Trácia, a Grécia e a Itália, marcando o fim de uma Era.
Acreditava ter o mundo aos seus pés.
Em encontro com Santo Agostinho, então bispo de Hipona, no ano 410 D.C., diz quando este vai pedir humildemente ao cruel general que não seja impiedoso na invasão a Roma, oferecendo em troca a sua própria vida em favor do povo romano: "Eu sou o teu Deus, não me fale em nome de outro Deus...”.
No entanto, o encontro com o Sacerdote Santificado, suas palavras inspiradas nos ideais cristãos, marcaram de alguma forma a alma do guerreiro, como semente de misericórdia que só viria a amadurecer séculos e vidas mais tarde. Naquele tempo, apesar de todo ódio e sede de poder e de conquista do general, ocorreu que durante a sangrenta invasão a Roma os Templos Cristãos da cidade foram misteriosamente poupados e o povo da cidade, inclusive os pagãos, pôde buscar proteção naqueles Templos.

Após o saque, Alarico ficou pouco tempo em Roma. Seu fascínio pelo poder leva-o a tentar dar o último golpe no Império e ele parte em direção à África. Com essa conquista ele seria confirmado como o mais poderoso imperador da Terra, naquele tempo.
No entanto, uma forte tempestade destrói seu exército e Alarico morre pouco depois, em Cosenza (Itália). Seus soldados, para evitar a profanação de seu túmulo, enterram-no no leito do Rio Basento, matando posteriormente os escravos usados para desviar o rio a fim de que não revelassem o local do sepulcro do guerreiro.
Desencarnado, defronta-se, na Pátria Espiritual, com o horror dos seus crimes. Por pedido seu e com a concórdia das Esferas Espirituais, volta a Terra como Alarico II, novamente no comando e no seio do seu próprio povo. Apesar de todo arrependimento vivenciado no Plano Espiritual, não se desvencilha de sua ânsia de poder e glória e acaba sucumbindo a esta prova.

A INSISTÊNCIA NAS TENDÊNCIAS INFERIORES
Suas tendências inferiores ainda estavam muito arraigadas na essência de sua alma. Investido dos mesmos poderes de sua encarnação pretérita, não consegue ainda desta vez, refrear as inclinações ambiciosas de seu caráter, sucumbindo às promessas de redenção consignadas no Plano Espiritual. As guerras e conquistas territoriais continuavam sendo seu móvel principal, muito embora não conservasse mais, em grau tão marcante, a crueldade com que na existência anterior escrevera páginas negras na História Universal.
Seus domínios abrangiam a Espanha (exceto a Galiza), a Aquitânia, o Lanquador e a Provença Ocidental.
Alarico II desencarna na batalha de Vouillé (próximo a Potiers, França), travada em 507, contra o então rei dos Francos, Clóvis, pela posse da Aquitânia (sudoeste da França).


A próxima encarnação que se conhece desse Espírito é em terras francesas como o poderoso Cardeal Richelieu. Investido de grande poder, defendeu o absolutismo real e foi, por 18 anos, o homem mais poderoso da França, como primeiro-ministro.
Nascido em 9 de setembro de 1585, estudou os princípios do Cristo na Igreja Católica, onde atingiu alta posição perante o clero, mas se destacou mesmo como político e estadista, se tornando uma das mais notáveis figuras do regime monárquico francês, cujas mãos duras e inteligentes detiveram o poder político da França, acima mesmo do rei Luís XIII.
Homem de ação, militar completo, católico fervoroso e político de extrema habilidade, soube contornar todas as intrigas e se manter no poder, conservando a confiança do Rei até o fim de seus dias. Assim estabeleceu as bases do absolutismo real francês, e suas obras foram posteriormente estudadas por Luís XIV, Napoleão Bonaparte e pelo general de Gaulle. A razão do Estado era sua razão de ser: não teve piedade daqueles que, em sua opinião, enfraqueciam o reino da França.
"O homem é imortal, sua salvação está no outro mundo; o Estado não, sua salvação é agora ou nunca."
“... para mim existem dois deuses: Deus e a França."
Em encontro com São Vicente de Paula, o Cardeal ouve o pedido amoroso do Santo dos Pobres: “Clementíssimo Senhor, dá-nos Paz, tem compaixão de nós”.
 Dá paz a França!
Mas não se deixa tocar: seu zelo excessivo e terrível pelo seu país e pelo seu governo foi capaz de justificar aos olhos dos homens, que o temiam e o admiravam, as guerras internas e externas pelas quais a França, nação então hegemônica na Europa, enveredou em nome de ideais estadistas fanáticos, colocados acima de todos os ideais humanos, proporcionando espetáculos de sangue e deixando muitos povos na miséria.



A GRANDE REGENERAÇÃO DO ESPÍRITO PELA DOR E PELA MISERICÓRDIA DE DEUS
Início do Século XX, a Pátria do Evangelho recebe este espírito comprometido com a Lei de Deus em busca da sua pacificação através de provas ásperas e redentoras, chagas redentoras...
A Lei Divina dá-lhe nova chance e nascido no Brasil, em 12 de julho de 1902, deixa a todos nós o legado da conversão pela dor e a certeza da misericórdia do Pai de que a travessia para a luz, apesar de todos os nossos crimes de sempre, é inevitável. A Lei de Amor se expressa no arrependimento e o arrependimento expressa-se na reparação.

O Poeta das Chagas Redentoras



Jésus Gonçalves nasceu no dia 12 de julho do ano de 1902, em Borebi, interior de São Paulo. E logo, aos três anos de idade, sua mãe desencarna por conta de um tumor no intestino. A maior parte de sua infância, ele passa em Agudos - pequena cidade próxima à Borebi -, tutelado pelo tio.

 Com quatorze anos ele volta, com sua família, para a sua cidade natal, onde começa trabalhar temporariamente na Fazenda Boa vista, como cultor e beneficiador, ora de algodão, ora de café. Foi nessa época também que ele tem uma pequena iniciação na música e começa tocar um velho "baixo de sopro". Assim ele forma uma pequena banda, com o nome de "Bandinha de Borebi".
Seu espírito de liderança e sua personalidade marcante fazem-no ficar conhecido no vilarejo. Sempre se esforçava para que as quermesses e festas locais obtivessem um grande êxito.
Aos 17 anos muda-se para Bauru, onde freqüenta um colégio - Colégio São José - por algum tempo, não o suficiente para conseguir o diploma do ginásio.

Trabalhando como Tesoureiro da Prefeitura, já com seus 20 anos, Jésus casa-se com Dona Theodomira de Oliveira, viúva com duas filhas. Oito anos depois, em 1930, ela desencarna por causa de uma tuberculose, deixando-o sozinho, cuidando de seis filhos.



 Nessa época ele, além de trabalhar na prefeitura, Jésus participa da "Jazz Band de Bauru" - como era conhecida a banda da Prefeitura de Bauru - tocando clarinete. Ainda nas artes, ele também atuava e dirigia peças de teatro, de autoria própria, nos teatros de Bauru e de cidades vizinhas. Paralelamente a essas atividades, Jésus Gonçalves, como apreciador de poesias e prosas, colabora com grande freqüência, com os jornais "Correio da Noroeste" e "Correio de Bauru".

As ARTES: ferramenta-bálsamo para a redenção


Outrora o terror, a apreensão... Hoje a alegria, o riso, a confiança.
Jésus, à direita, já com a doença: clarinetista da Jazz-Band de Aymorés.

 "A teu mando, milhões de açoites erguiam-se, abrindo feridas, mutilando membros, promovendo aleijões, desconjuntando corpos. Aniquilaste a alegria de viver de dezenas de cidades levando a apreensão e o terror a simples aproximação de suas tropas. Para o resgate de tais violações receberás as Artes por ferramentas, que te permitirão recompensar o terror de outrora, pela alegria do divertimento sadio que proporcionarás aos povos das cidades em que habitarás. Porém não as receberás de forma facilitada, não, porque não haverão facilidades para ti. A espiritualidade estará assistindo teu reeducar e colocará em teu caminho as oportunidades, mas competirá a ti aproveitá-las ou não."

 Algum tempo após o desencarne de Theodomira, surge uma companheira: Anita Vilela, sua vizinha, que lhe ajudava a cuidar do lar. Eles se envolveram e casaram-se, uma união sincera que duraria 12 anos, até o desencarne de Anita.
Vem então a grande provação na sua vida: aos 27 anos é acometido pela Hanseníase, popularmente a lepra. Ele não compreenderia naquele momento, mas era cobrado dele um tributo por reencarnações passadas. Jésus, ateu e inconformado, busca dominar a dor no seu coração e as rudes condições que recaem sobre um leproso: a rejeição e o abandono da sociedade. É obrigado a entregar as filhas do primeiro casamento à tutela de parentes e parar suas atividades profissionais que preenchiam sua alma inquieta e sequiosa de trabalho. Mas ele sofre muito: era muito difícil para ele enfrentar a nova e difícil situação.
Naqueles tempos, os doentes eram obrigados a abandonar seus empregos e viverem isolados da sociedade, trancados em suas casas ou então em leprosários. Como bom cidadão, respeitador das normas e leis, Jésus se afasta da sociedade, como era determinado pelas normas médicas em vigor na época. Os filhos mais novos, que ainda continuavam com ele, não entendiam a súbita parada nas atividades. Aposentado prematuramente passa a viver em uma moradia cedida temporariamente pela Câmara Municipal. Apesar disso continua a escrever para o "Correio da Noroeste".
João Martins Coub, um amigo que compreendera o sofrimento de Jésus, cede-lhe um espaço de sua fazenda, e lá ele se dedica ao trabalho do lavradio, cultivando melancia e outras frutas, com a mesma fibra de sempre, buscando nesta atividade afogar a mágoa que a doença lhe impunha.
Mas foi por pouco tempo: em agosto de 1933, ele é recolhido pelo Serviço Sanitário e é internado no Asilo-Colônia Aymorés, recém-inaugurado em Bauru. Por esperar por esse momento, Jésus não apresenta resistência para a internação, o que causa surpresa aos funcionários da Saúde Pública, que normalmente enfrentavam grande resistência dos doentes. E apesar da reação resignada e de conformismo, é nessa época que ele se questiona sobre Deus: "Onde estava o Deus de que tanto se falava?" e entra num momento de revolta íntima.
Na Colônia Aymorés, em Bauru, onde fica de 1933 a 1937, Jésus mostrava-se mais resignado com a convivência com os semelhantes e irmãos na dor, e é chamado de "mestre" por sua imensa disposição e capacidade de trabalho. Num curto espaço de tempo, internado no asilo, Jésus consegue várias amizades sinceras.
Apesar da revolta e das frustrações, ele nunca se deixou levar à ociosidade e ao desânimo. Participa da criação de um pequeno jornal interno do asilo: "O Momento"; escreve e participa de peças teatrais; ajuda na criação do "Jazz Band de Aymorés"; e participa da equipe de futebol.

 A inquietude da alma, que outrora foi motor de ódio e guerras em vidas pregressas, hoje movia-o para trabalhos edificantes, construindo obras, levando-o a busca até a conversão...

Na época, Jésus sofria muito com problemas no fígado e buscava a transferência para o Hospital Padre Benta em Guarulhos, que possuía fama de oferecer melhores serviços médicos. Mas suas cartas paravam nas mãos do Diretor do Sanatório Aymorés, que não queria perder seu mais ativo e dinâmico interno. Em setembro de 1937 consegue driblar todos os empecilhos e obtém a transferência para "Padre Bento". Mas não conseguiu chegar até lá: durante a viagem, as dores no fígado o obrigaram a parar em Itú para receber assistência médica, e ali ficou no Hospital de Pirapitinguí, convencido pelo diretor do hospital, com promessas de melhores cuidados médicos.


Em Pirapitinguí, Jésus logo se revela o mesmo indivíduo de destaque, um líder natural entre os internos, conquistando logo a admiração e o respeito pelo seu caráter reto e íntegro e pela sua capacidade de realização e trabalho.
Fundou ali a "Jazz Band”, a Rádio Clube de Pirapitinguí (existente até hoje) e um jornal interno, o "Nosso Jornal".
Mas doença avança lenta e penosamente, tomando-lhe o corpo, e os medicamentos se tornam cada vez mais inoperosos. A dor, a angústia e a solidão levam o indivíduo a buscar Deus. Com Jésus Gonçalves não seria diferente, mas ele O nega ainda, procurando-O somente nas vestimentas do trabalho, da atividade artística, da criação.
Ninita, uma amiga do hospital a quem posteriormente se uniria em matrimônio, era estudiosa da Doutrina Espírita e tentava inutilmente esclarecer a mente materialista do ateu Jésus.
Jésus com Ninita, última companheira de Jésus.

 Em 1943 Anita desencarnou, e no velório da mesma aconteceram diversos acontecimentos mediúnicos de clarividência de alguns colegas seus e finalmente Anita passou uma mensagem para ele de uma forma bastante íntima onde Jésus não teve dúvidas da veracidade das informações: "Velho, não duvides mais, Deus existe!".
Extremamente materialista ainda, mas bastante impressionado, buscou nos livros Espíritas as explicações para o contato. O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, foi o marco inicial da grande transformação que ocorreria em seu ser.
Sua conversão definitiva ocorreu certo dia em que suas dores no fígado se apresentavam bem mais fortes que de costume. Os remédios não surtiam efeito e resolveu então chamar por aquele "deus" no qual ainda não acreditava: retirou um copo de água da talha, colocou-o na mesa da cozinha, e desafiou:
– Se Deus existe mesmo, dou cinco minutos para que coloque nesta água um remédio que me alivie a dor!
Quando bebeu a água sentiu que estava totalmente amarga. Chamou um companheiro que confirmou a alteração da água. Após 2 minutos nada mais sentia em dores, e ficou ao mesmo tempo agradecido e espantado. Reexamina então as suas bases materialistas e nos dias seguintes, já com suficientes provas e chamamentos, pôs-se a buscar nos estudos de obras espíritas as respostas que sempre procurou.
"Dor-auxílio": por duas vezes, suas dores no fígado mudaram totalmente o rumo da sua vida.

A Doutrina Espírita saciou-lhe a sede de explicações, fez-lhe beber nas fontes da lógica e do bom senso, a água límpida da Verdade. Buscou elucidar seus companheiros e irmãos na dor com a noção de Justiça Divina e submissão a dor, e como sempre, tudo fazia junto aos internos para melhoria da vida comunitária no Hospital. Nesta época, rejeitou o apelido "mestre", pelo qual era chamado desde Aymorés, devido a sua reconhecida superioridade intelectual e temperamento de líder.
Dedicou-se então, com o mesmo empenho que lhe era característico da alma, a construção e edificação de um centro espírita em Pirapitinguí. Devido à falta de recursos, buscou ajuda junto às comunidades espíritas para a construção do centro e estabeleceu um elo sem precedentes entre os leprosos e a sociedade. Sua iniciativa desperta os companheiros de Doutrina em diversas localidades, e as respostas não tardam a chegar, emprestando solidariedade moral e material à Campanha. Diversas caravanas Espíritas passaram a visitar o sanatório, levando alegria e conforto aos internos. Estas caravanas pioneiras abriram novas frentes de trabalho, não só aos praticantes da Doutrina, mas incentivando também outras religiões em iniciativas semelhantes.
Fundou em 1945 a "Sociedade Espírita Santo Agostinho", após muito estudo e superação de grandes dificuldades, que também trouxeram amizades e solidariedade de muitos que o apoiaram nesta época. Jésus participou ativamente das atividades do "Santo Agostinho", sempre movimentadas por um espírito de ação e dedicação sinceras: distribuição de sopa aos mais necessitados do Hospital, palestras de estudos e elucidação dos companheiros, orientação espiritual, sessões de desobsessão.
A doença, já em estado bastante evoluído, tirava os movimentos de Jésus, tomando-lhe a capacidade de trabalhar e de estar fisicamente nas atividades do "Santo Agostinho", que tanto lhe preencheram a alma nesta fase da sua vida. Porém tudo fez para não se afastar do trabalho, e construiu uma casinha nos fundos do centro.
Vinte dias antes de desencarnar, um fato marcou profundamente Pirapitinguí e o coração dos espíritas: com a doença já tendo lhe consumido todo o corpo, e também as cordas vocais, foi à sessão espírita e para a surpresa das 300 pessoas presentes, os Mentores da Casa devolveram-lhe a voz e aí fez uma preleção de quase 2 horas de elevados ensinamentos evangélicos. Ao término da preleção Jésus simplesmente perdeu novamente a voz. Na semana seguinte, o fenômeno se repetiria pela última vez.
 Ele sofreu muito nos últimos dias, o seu corpo estava completamente deformado pela doença, seu rosto transfigurado e seus órgãos começaram a parar. Apesar das tentativas médicas, e lentamente desligava-se do corpo físico. E sua alma então libertava-se de sua existência árdua e espinhosa, mas, sobretudo, purificadora. Pelo sofrimento, pôde encontrar o caminho que nos leva à Cristo, e pelo trabalho pode plantar novas sementes na sua história. Em 16 de fevereiro de 1947 desencarna Jésus Gonçalves, o Apóstolo de Pirapitinguí, o Poeta das Chagas Redentoras.
Jesus Gonçalves, depois de desencarnado, pediu que lhe chamassem Jésus, pois achava-se indigno de usar o mesmo nome de Jesus.
A COMPROVAÇÃO DA VIDA APÓS A MORTE

Jésus envia a Chico Xavier os mais variados relatos da vida espiritual, inclusive da sua própria vida. Também enviou mensagens e poemas, cumprindo o que disse a Francisco Xavier, poucos dias depois de desencarnar.
Março de 1947 - Sem saber que Jésus Gonçalves havia desencarnado Francisco Cândido Xavier, reunido em Pedro Leopoldo, recebe a sua visita.
Os dois nunca haviam se encontrado, mas trocavam intensa correspondência e nestas cartas, Jésus sempre falava a Chico que o visitaria. Nesta noite, Jésus diz a Chico: “... Vim ver você! quero escrever por você..." Muito emocionado Chico recebe um poema. No dia seguinte, o Sr. Cardoso, um dos presentes, vai a Pirapitinguí e lá recebe a notícia, do desencarne de Jésus, a menos de um mês.

O primeiro contato espiritual entre Jésus Gonçalves e Divaldo Pereira Franco.
"De súbito, eu vi chegar um ser espiritual com características para mim até então jamais vistas: apresentava profundas marcas na aparência física. Um dos pés, que parecia ter os dedos amputados, estava envolto em gaze, com uma deformidade visível...”

A ALMA DO GRANDE POETA APÓS A MORTE
O Cego de Jericó
Sim! Somos cegos de espírito! Vivemos nas sombras dos caminhos da vida, como mendigos de ilusões quiméricas, como mendigos de uma felicidade que não sabemos encontrar, porque não sabemos defini-la.
Muitas vezes, nas encruzilhadas dos caminhos tortuosos, nos sentimos vencidos pelo cansaço, acabrunhados pelas desilusões, esmagados pelas dolorosas decepções. Somos cegos tateantes, que vamos e vimos, sempre pelos mesmos caminhos, num horroroso círculo vicioso.
Então, nessas horas de suprema angústia, lembramo-nos de que o meigo Rabi que curou a cegueira material do cego de Jericó pode iluminar o caminho do nosso espírito atormentado. E queremos gritar: "Jesus! Filho de Davi! Tem compaixão de mim".
Mas... Quando pensamos em nos valer do Divino Médico, eis que uma multidão de vozes nos manda calar.
Vozes sinistras, que reboam dentro de nós mesmos, com o imperativo de uma força dominante!
E ante essa multidão de monstros, constituída de nossos vícios, dos nossos mil defeitos, da nossa imperfeição moral, do nosso desejo de acomodação com os bens efêmeros e transitórios da vida material, nós nos calamos, acovardados, incapazes de fazer partir de nosso coração o grito de angústia salvador!
Sabemos que o Mestre pode nos curar. Sabemos que Ele está junto de nós, bondoso como sempre, pronto para a aplicação do "passe magistral"! Mas sabemos, ou fingimos não saber, que é necessária a energia moral do cego de Jericó.
Assim, pois, se não quisermos permanecer no vai-e-vem das curvas tortuosas, tapemos os ouvidos ao sinistro clamor da multidão nefanda e procuremos o Celestial Enviado, que habita conosco.
Procuremos Aquele que é o "Caminho, a Verdade e a Vida": aquele que pode curar o corpo e o espírito e, tapando os ouvidos às seduções deste mundo, aos preconceitos e acomodações, aos interesses mesquinhos, gritemos cada um de nós, com a força de nossa angústia, do nosso desespero, do nosso desejo de luz:
– Jesus! Meu Senhor! Põe sobre mim tuas divinas mãos e aclara o meu caminho, como o fizeste ao cego de Jericó!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Espiritismo na Bíblia


Fátima Farias
O teólogo e professor universitário paraibano Severino Celestino da Silva não aceita críticas sem fundamentos lógicos. Cansado de ouvir falar que a Bíblia condena o Espiritismo consultou 16 Bíblias e ali encontrou disparidades de conteúdo. Lembrou-se das palavras de São Jerônimo: “A verdade não pode existir em coisas que divergem”. Decidiu mergulhar na fonte hebraica da Bíblia, comparou com as versões em grego e latim, e descobriu que as traduções apresentam conceitos políticos e pessoais dos seus tradutores, que comprometeram sua autenticidade. Debruçou-se na pesquisa, teve a idéia de reunir o resultado no livro Analisando as Traduções Bíblicas, que aponta as distorções ocorridas nos textos sagrados de Moisés até hoje. A obra teve tamanha repercussão pelo Brasil afora e até no exterior (três edições em menos de dois anos), que já recebeu proposta para editá-lo em espanhol e esperanto.
Ele consultou ainda 103 referências bibliográficas, que colocam o Espiritismo no seu devido lugar perante a Bíblia, provando também que os fenômenos mediúnicos, a reencarnação e as bases do Espiritismo, ressaltam dos textos sagrados. Precavido, ainda foi buscar o aval do israelense Gad Azaria, que revisou os textos em hebraico. Celestino revela que na Bíblia se encontra toda a crença da reencarnação, por parte dos profetas e do povo hebreu, em todas as épocas, e do próprio Cristo que pregava sobre o retorno do espírito noutro corpo, inclusive afirmando, textualmente, que João Batista era o Elias que já vivera no tempo dos Reis de Israel e que havia voltado reencarnado no corpo de João Batista. Dos 23 capítulos do livro, oito se referem à reencarnação na Bíblia.
Celestino considera a Bíblia o livro mais fantástico do universo, por possuir um conteúdo moral, religioso e de relacionamento do homem com Deus indiscutível, porém constata que ainda é muito incompreendida pelo homem. “A Bíblia hoje em português representa uma verdadeira ‘Torre de Babel’ e se perde aquele que busca entender a sua mensagem. Este foi o motivo que me levou a escrever este livro que traz verdades importantes para quem quer seguir um Deus único, misericordioso, infinitamente justo e bom e sobretudo Amor. É um livro que mostra ainda a inexistência de religiões na Bíblia, bem como a inexistência de condenação à Doutrina Espírita. Ele leva você a refletir sobre o amor, a prática da caridade, o amor ao próximo e que a fé sem obras em si é morta”, explica.
As religiões tradicionais costumam argumentar que a Bíblia não se refere ao Espiritismo, mas Celestino tem a resposta: “Realmente a Bíblia não apresenta, em nenhuma de suas páginas, referência ao Espiritismo, de onde logicamente se conclui que não poderia proibir a sua prática ou condená-lo. Seria até uma incoerência. A Doutrina Espírita foi codificada por Allan Kardec em 1857, já a Bíblia foi escrita há quatro mil anos atrás, como poderia condenar uma doutrina que surgiria tanto tempo depois? O que encontramos em todas as suas páginas são fenômenos mediúnicos incontestáveis e realizados pelos profetas que eram, na verdade, grandes médiuns”.

Esclarecendo Deuteronômio

Celestino ainda aponta o discurso dos opositores do Espiritismo, que se utilizam do Deuteronômio para ilustrar e justificar suas posições discriminatórias em relação à doutrina kardecista. Ele esclarece essa utilização do livro bíblico. “O Deuteronômio é um livro fantástico. É nele que existe um maravilhoso e incontestável legado para a humanidade: os Dez Mandamentos. Foi nele que Deus registrou a Primeira Aliança. Mas, as pessoas querem ligar as recomendações de Moisés, feitas para o povo Judeu há quatro mil anos no deserto do Sinai, como se fossem dirigidas para os espíritas, que nem existiam naquela época. Eu tenho o maior respeito pelo Deuteronômio, mas é um livro do Judaísmo e sendo o Espiritismo uma religião cristã, como pode ser condenado por uma religião judaica?
“Examinando-se com atenção o Deuteronômio em sua língua original, você vai observar que ele apresenta, com relação à proibição de consulta aos mortos, o mesmo rigor e respeito apresentado por Alan Kardec no Livro dos Médiuns, (questões 273, 274 e 275). Portanto, qualquer coisa fora disto é desconhecimento ou má fé de quem assim se pronuncia”.
Para as pessoas que insistem em afirmar que o Espiritismo não é uma religião cristã, ele reage: “Só quem não conhece o Espiritismo pode fazer tal afirmativa. Os postulados da Doutrina Espírita são todos baseados em princípios cristãos. O Espiritismo complementa o Cristianismo e nos mostra ainda claramente de onde viemos, o que estamos fazendo na terra e para onde iremos. Toda a prática espírita é gratuita, dentro do princípio do Evangelho: ‘Dai de graça o que de graça recebeste’ (Mt. 10,8). A moral que o Espiritismo prega é a moral cristã, ditada pelo Cristo, o maior espírito que habitou o nosso planeta.
“O Espiritismo nos ensina que somos espíritos imortais e quer estejamos na terra, quer no mundo espiritual, trabalhamos ativamente para alcançar a perfeição. O Espiritismo respeita todas as religiões, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização entre todos os homens, independentemente de sua origem, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. Reconhece, ainda, que o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei da justiça, do amor e da caridade, na sua maior pureza. O Espiritismo nos demonstra que a justiça divina é rigorosamente cumprida, havendo recompensa para os bons e cobrança para os maus. (Mt. 5,25; Efé. 6,8 e 9; Col 3,25; Tia.2,13; Gál. 6,6-8). E nos mostra também que não há penas eternas. O espírito culpado, logo que se arrependa do mal que praticou, obtém a condição de repará-lo. Neste sentido, é preciso trabalhar para corrigir o mal que foi praticado contra o semelhante”.
E ainda, com relação às confusões feitas pelos opositores do Espiritismo, Celestino esclarece: “O Espiritismo não possui hierarquia religiosa, não tem sacerdotes, nem rituais ou formas de culto exterior e nem queima de incenso ou velas, não usa amuletos ou similares, altares, imagens, andores, velas, procissões, sacramentos, concessões de indulgência, paramentos, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso, fumo, talismãs, amuletos, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, búzios ou quaisquer outros objetos. Em resumo, o Espiritismo é o Evangelho redivivo de Jesus”.

As provas da reencarnação

Dos 23 capítulos do livro de Celestino, oito se referem à reencarnação na Bíblia. Eis algumas considerações: “O rabino Arieh Kaplan afirma que: ‘Não é possível entender a Cabalá sem acreditar na eternidade da alma e suas reencarnações’.Com o nome de ‘Transmigração das Almas’, todo o povo judeu, inclusive a corrente ortodoxa hassídica, acredita que depois da morte a Alma reencarna numa nova forma física. Aqueles judeus hassídicos característicos, de chapéus pretos, tranças (peot) e longos casacos negros são pessoas que acreditam na reencarnação. O hassidismo é uma forma de Judaísmo fundada na Polônia em meados do século XVIII pelo rabino Israel Baal Shem Tov (1700-1760) que começou sob a liderança de Dov Baer De Mejirech. Israel Baal Shem Tov extraiu elementos da Cabalá e espalhou por toda Europa oriental.
“A reencarnação é uma crença fundamental do hassidismo. Seus conceitos constam dos livros Sefer Ha-Bahir(Livro da Iluminação), primeiro livro da Cabalá judaica e do Zohar (Livro do Esplendor). Ambos os livros atribuem grande importância à doutrina da reencarnação, usada para explicar que os justos sofrem porque pecaram em uma vida anterior. Nele, o renascimento é comparado a uma vinha que deve ser replantada para que possa produzir boas uvas. A ‘Transmigração’ emprestou um significado novo a muitos aspectos da vida do povo judeu, pois o marido morto voltava literalmente à vida no filho nascido de sua mulher e seu irmão, num casamento por Levirato. A morte de crianças pequenas era menos trágica, pois elas estariam sendo punidas por pecados anteriores e renasceriam para uma vida nova. Pessoas malvadas eram felizes neste mundo por terem praticado o bem em alguma existência prévia”.
“Prosélitos do judaísmo eram almas judaicas que se haviam encarnado em corpos gentios ou pagãos. Ela também permitia o aperfeiçoamento gradual do indivíduo através de vidas diferentes. O Zohar afirma ainda que a redenção do mundo acontecerá quando cada indivíduo, através de ‘Transmigração das Almas’ (reencarnações), completar sua missão de unificação. Ele nos diz que o termo bíblico ‘gerações’ pode ser substituído por ‘encarnações’. Baseados nestes conceitos, os cabalistas desenvolveram a sua própria interpretação sobre a aliança que Deus fez com Abraão e sua semente. Deus disse: ‘Estabelecerei o meu concerto entre mim e ti, e a tua semente depois de ti, nas suas gerações, por concerto perpétuo’. Acreditavam que Deus havia feito esta aliança com a semente de Abraão não apenas por uma vida, mas por milhares de encarnações.
- E para os que não acreditam na visão da Cabalá, como é que fica?
- O Antigo Testamento, responde Celestino, apresenta várias referências sobre a reencarnação. Citaremos aqui a passagem em que Deus diz ao profeta Jeremias que o conhecia antes dele ser concebido. Antes mesmo de te formar no ventre de tua mãe, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei; Eu te constitui profeta para as nações’. (Jer. 1,5). Esta passagem sugere que a alma de Jeremias já existia antes de seu nascimento no século VI antes de cristo. Na Bíblia, se encontra toda a crença na reencarnação por parte dos profetas, de David, do povo hebreu em todas as épocas e do próprio Cristo que nunca negou a reencarnação. Pelo contrário, em Mateus 11,13 e 14 Ele afirma textualmente que João Batista era o Elias que já vivera no tempo dos Reis de Israel e que havia voltado reencarnado no corpo de João Batista . Veja os versículos na íntegra: Porque todos os profetas bem como a Lei profetizaram até João. E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que devia vir’. Mt. 11,13 e 14. Palavras do Cristo. Quem quiser que as negue, eu não me atrevo. Temos ainda em toda a Bíblia passagens do Gênesis ao Apocalipse que mostram a certeza na volta da alma ou espírito em outro corpo e que tanto os profetas como os judeus ortodoxos até hoje ainda acreditam.

Passagens da Ressurreição

Segundo Celestino, a Ressurreição, em princípio, é definida como o retorno da alma ao corpo que parecia estar morto. “Na Bíblia existem oito casos de ressurreição. Três casos ocorrem no Velho Testamento, o primeiro é narrado no I livro dos Reis cap. 17 vers. 21 e 22, (a ressurreição do filho da viúva por Elias). O segundo no II livro dos Reis 4,32-37 (a ressurreição do filho da mulher Sunamita por Eliseu) e o terceiro também no II livro dos Reis 13,20 e 21. (ressurreição de um homem cujo cadáver tocou nos ossos de Eliseu) No Novo Testamento temos outros cinco casos de ressurreição. Três foram realizados por Jesus, o Cristo, como está narrado nos Evangelhos: ressurreição da filha de Jairo, o chefe da Sinagoga, narrado em Mateus 9,18-25; a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas 7, 11-17) e a ressurreição de Lázaro (João 11, 1-43). As outras duas ressurreição foram realizadas por Pedro e por Paulo respectivamente, narrados nos Atos dos Apóstolos 9,36-42 e 20, 7-12. Existe uma corrente que prega a ressurreição como ocorrendo no último dia e com o mesmo corpo que se viveu. Isto não é verdadeiro.
“Na verdade, o que se traduz como ressurreição na Bíblia, com exceção dos casos citados, significa reencarnação, pois a ressurreição ocorre com o perispírito ou corpo espiritual como fala Paulo aos Coríntios na sua I carta, cap. 15, 35 a 53. A Igreja Católica recita todos os dias na missa, o Credo de Nicéia, que ao ser criado em 325 da nossa era, aceitava a reencarnação e por isso cita ‘creio na ressurreição da carne’. O mesmo ocorre com outras passagem bíblicas que foram adaptadas aos conceitos e crenças pessoais de quem as traduziu. No entanto, Paulo de Tarso foi bem enfático ao afirmar que ‘a carne, e o sangue não podem herdar o Reino de Deus’. Orígenes, discípulo de São Clemente de Alexandria, analisando a Paulo, concluiu que quem ressuscita é o perispírito ou corpo espiritual. O corpo material é entregue a terra para ser destruído e o espírito ou alma vai a Deus”.

A sobrevivência do espírito

Celestino afirma que a imortalidade da alma também consta na Bíblia, sendo uma crença dos gregos, dos egípcios, hindus, chineses e outros povos. Nos Salmos de David existem muitas citações, que expressam sua crença no Sheolou Inferno, só que como uma passagem temporária, jamais como uma região de tormentos eternos. David lançou, juntamente com os profetas, o conceito de ‘Olam ha-bá’ que significa Mundo por Vir’, que era o mundo espiritual da alma, após a morte, no celestial Jardim do Éden. David foi ungido rei por Samuel, filho de Ana e de Elcana. No I livro de Samuel cap. 2,6, encontra-se o cântico de Ana onde está escrito: O Senhor dá a morte e a vida, faz descer ao Sheol e de lá voltar. David cita em vários dos seus Salmos este conceito. O Cristo nos Evangelhos mostra claramente e em muitas citações a certeza da existência e sobrevivência da alma após a morte. ‘Ora é esta a vontade daquele que me enviou: que Eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia’ (João 6,39). Existe, neste evangelho, de uma maneira geral, a promessa e a certeza de que todos chegarão um dia à Deus. A parábola do homem rico e Lázaro é uma prova da sobrevivência do espírito (Lc. 12,13). O juízo final em Mateus 25, 31-46 é outra, e assim sucessivamente.

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Muitos questionam por que a Doutrina Espírita criou o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo ao invés de seguir a Bíblia. Celestino tem a resposta: “Este é mais um conceito errôneo de quem não conhece o Espiritismo. O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma coletânea de versículos extraídos da Bíblia e interpretados pelos espíritos. É um livro de orientações maravilhosas para as dificuldades da vida. Possui 28 capítulos, onde setenta por cento dos ensinamentos foram extraídos do Sermão do Monte, o maior legado que Cristo nos deixou e composto por ensinamentos que são aceitos por todos os cristãos. Os outros versículos são retirados dos Evangelhos e até da Primeira Aliança (Antigo Testamento), pois o seu XIV capítulo, ‘Honrar Pai e Mãe’, foi retirado do Êxodo 20,12. Portanto, não se trata de uma Bíblia dos Espíritas, mas de um roteiro moral e de muita luz retirados diretamente das páginas da Bíblia.

A Terceira Revelação

Sobre o fato do Espiritismo ser considerado a terceira revelação, Celestino explica que existem três revelações divinas no universo: “A primeira revelação foi feita através de Moisés no Monte Sinai que são os ‘Dez Mandamentos’. Na seqüência, os profetas predisseram a vinda do Cristo que nos legou a segunda revelação que foi o Evangelho. E foi o próprio Cristo quem predisse a terceira revelação: o Espiritismo. No capítulo 14 do Evangelho de João, em suas despedidas registrando nos versículos 15 a 17, Jesus deixa uma das suas mensagens finais: ‘Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece: mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós’.Cita ainda o Cristo nos versículos 12 a 14 do capítulo 16 do Evangelho de João:Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. As verdades do Espiritismo ainda não são aceitas por muitos. Quando vier o paráclito, o Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vô-lo anunciará’.
O profeta Joel, que viveu 750 anos A.C. (cap. 3, 1 a 5) (algumas Bíblias traduzidas, trazem Joel 2,28) foi quem primeiro profetizou a chegada dos dons da profecia, ou seja, da mediunidade e do Espiritismo. O texto é o seguinte: ‘Depois disto derramarei o meu espírito sobre toda carne: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos velhos terão sonhos, e vossos jovens terão visões; e também derramarei o meu espírito sobre os escravos e as escravas. Tudo isto é predito também pelo Cristo, como vimos acima, e o fato ocorre com os discípulos na reunião do Pentecostes e está narrado em Atos 2, 1-21”.

A salvação segundo o Espiritismo

Celestino analisa a questão da salvação sob a ótica espírita como sendo uma conquista diária. Esclarece: “Nós preparamos o nosso caminho todos os dias para o nosso reencontro com Deus. É lógico que, em princípio, a salvação é para todos, porém segundo o nosso proceder, uns chegam primeiro outros depois, porém todos chegam. ‘Abandone o ímpio o seu caminho, e o homem mau os seus pensamentos, e volte para Deus, pois terá compaixão dele, e para o nosso Deus, porque é rico em perdão’ (Is. 55,7). Cristo acrescenta: ‘Assim é a vontade de vosso Pai celeste que não se perca um só destes pequeninos’ (Mt. 18,14). ‘Em verdade vos digo, os publicanos e as meretrizes vos precedem no reino de Deus’ (Mt.21, 31). Aqui o Cristo deixa bem claro que todos entrarão no reino dos Céus, até os publicanos e as meretrizes. Entrarão depois, mas que entrarão não se tem a menor dúvida”.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

OS AMULETOS


         Muitas são as perguntas que se fazem sobre os amuletos uma vez que os espíritos conseguem agirem sobre a matéria e a matéria não consegue agir sobre os espíritos.  Isto é uma verdade absoluta, mas estudando um pouco mais sobre o magnetismo chegaremos a conclusão que qualquer objeto que recebe a ação de um magnetizador passa a poder agir sobre os corpos, trazendo a cura ou simplesmente ajudando os médiuns no seu trabalho.
         Vejam o que o espírito de São Luiz diz sobre os talismãs, o fato abaixo se deu na França onde Allan Kardec procurado pelo Sr. M. teve de recorrer ao espírito amigo para as devidas respostas sobre um talismã da família que diziam fazer evocações dos espíritos:
“Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos, não admitirá que sobre eles se exerça a influencia de formas convencionais, nem de substancias misturadas em certas proporções: Seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos pretos, das galinhas pretas e de outras secretas maquinações. Já  o mesmo não se dá com um objeto magnetizado, pois, como se sabe, tem o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre a economia orgânica. Mas, então a virtude de tal objeto reside no fluído de que se acha momentaneamente impregnado e que assim se transmite, por via imediata, e não na forma, na cor, nem, principalmente nos signos de que possa estar cheio.”  ( Revista espírita de1.858 paginas 65 a 67 )
         Com esta explicação de São Luis, vemos que o objeto magnetizado por um espírito desencarnado ou encarnado pode sim agir sobre o mal que aflige o atendido.  A força não esta no objeto e sim na energia impregnado nele, como se faz aqui no Templo Maria Santíssima.
         Desde o inicio dos trabalhos com estes objetos na casa, os espíritos nos orientam a levar até eles para a magnetização, mostrando que tem todo um sentido estas atividades no Templo Espiritual Maria Santíssima.
         Logicamente que em todos os trabalhos e palestras na casa os espíritos nos convocam a reforma íntima, pois, este é o objetivo principal.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

HUMILDADE DE PRETO VELHO


Clementino nunca conhecera seu pai ou sua mãe, quando nasceu, foi logo separado deles e cuidado por um casal muito amigo que residia na mesma fazenda.  Era uma fazenda de café no interior das Minas Gerais.  Ele cresceu como todos os outros filhos de escravos, sem muito o que comer ou beber e era tratado como um animal sem alma.
            Mesmo com todos os maus tratos ele nunca se mostrava irritado ou inconformado era como se ele soubesse no fundo da alma o porque de todo aquele sofrimento.  O que o deixava triste era a forma com que as outras pessoas eram tratadas.
            Nas noites de cantoria na senzala ele sempre buscava um cantinho sossegado para apreciar o céu com suas estrelas, pensava nos pais que não chegou a conhecer e em seu dialogo íntimo perguntava a Deus se aquelas belas estrelas eram vistas por sua mãezinha onde ela estivesse.  Ele gostava também de ouvir os cantos tristes dos outros escravos que os remetiam a terra natal.
            Durante o dia em função de sua boa comunicação e bondade a sinhá da fazenda sempre o recrutava para acompanhá-la até a cidade e nestas saídas acabou por conhecer um homem de bom coração que trabalhava no mercado central, este amigo o apresentou Jesus e praticamente todos os dias enquanto a sinhazinha conversava com as outras senhoras ele se dedicava a ouvir sobre a vida do Mestre e o que mais o impressionava era a bondade de Jesus que conseguia perdoar até mesmo os que o faziam mau.
            Numa manhã enquanto caminhava em direção ao cafezal viu um amigo sendo açoitado sem piedade, aquilo lhe feriu o coração e com certo receio mas ao mesmo tempo com muita calma, procurou convencer o sinhozinho sobre as feridas já abertas nas costas daquele irmão de jornada.  O sinhozinho então começou a zombar do rapaz perguntando se ele aceitaria substituir o amigo infrator e num geste espontâneo vendo que o amigo não iria resistir muito tempo aceitou a troca.  Ele foi amarrado e para prolongar o sofrimento do corajoso clemencio o sinhozinho o deixou ali amarrado no tronco a luz incandescente do sol durante todo o dia para que todos vissem onde paravam os corajosos em sua fazenda, ao anoitecer a brisa da noite foi como um bálsamo para o jovem que lhe aliviavam as dores.  Mas mesmo no tronco com sede e fome não deixou de apreciar a beleza das estrelas e durante toda aquela noite ele buscou se lembrar da luta de Jesus com a maldade humana e diante daquele sofrimento ele se sentiu orgulhoso por poder passar por um pouco das dores que sentiu o mestre.  Se lembrou das curas, dos demônios afastados e das pregações as margens do lago de genezaré que Jesus brindava os homens com exemplos de amor.  A noite pareceu-lhe curta para tantas lembranças que lhe vinham a mente ao pensar no Cristo.
            Pela manha viu seus amigos cabisbaixos indo trabalhar e não querendo que eles se entristecessem procurou sorrir como se tivesse ainda em condições de suportar o que estava por vir.  O sinhozinho fez seu desejum tranqüilo como se nada lá fora estivesse acontecendo, a sinhá com o coração triste não tinha coragem de enfrenta o fidalgo de seu marido.
            Próximo das 10 horas da manhã chamou o seu capataz, homem robusto e com fisionomia animalizada, e deu-lhe a ordem de o chicotear até a morte.  A cada chibatada Clementino sentia como se a pele se soltasse, por alguns instantes sentiu vontade de gritar de pedir como pediu o Cristo no Getsamani, que Deus afastasse dele este cálice, mas se lembrou que Jesus mesmo sabendo do seu sofrimento resistiu até o fim.  Assim ele se envolveu em prece dizendo:


            Meu Jesuizinho me ajude a agüentar estas dores, me ajude a não ferir meu coração com a raiva e nem a desejar a ninguém estas mesmas dores.
            Cuida Jesuizinho de mainha onde ela estiver e também se puder de painho.
            Eu sou muito gradecido de me dar o gole do mesmo cálice que o Senhor bebeu.
            Te peço meu senhor que perdoe este sinhozinho ele ainda não entendeu nada de sua mensagem e perdoa também este irmão que me chicoteia ele ta só cumprindo ordem!
            Se o senhor puder me recebe no teu reino, não precisa me dar nada que eu não mereça!
            Gradecido sinhô!

            Após esta prece ele percebeu não sentir mais dores, mas percebeu também umas pessoas diferentes ali no terreiro, eram pessoas de semblante calmo e  sereno.  Entre aquelas pessoas percebeu um casal abraçado com olhos rasos d’agua e lhe direcionavam uma energia de muito amor.  Sem entender o que lhe estava ocorrendo buscou no seu silencio falar com Jesus e perguntar que pessoas eram aquelas e aquele casal por que sentia uma aperto no coração ao vê-lo.  Ouviu então uma voz serena dizendo-o: “Clementino meu filho, estas pessoas são a sua família em meu reino, o casal é seu pai e sua mãe que vieram a meu pedido te buscar para adentrar o meu reino.  Você filho soube perdoar mesmo diante da dor e assim seu espírito se revestiu ainda de humildade por isso não sentis as dores que te causam.”
            E assim numa manhã de verão retornou ao mundo espiritual na vestimenta simples de um escravo, Clementino, o mesmo Antero filosofo na Grécia antiga, o mesmo Dr. Clovis grande médico brasileiro, o mesmo que já havia conquistado alto grau de intelectualidade agora completo em suas virtudes adentra o reino que só podem entrar aqueles que se revestiram de muita humildade.
            Nos dias de Hoje nas casas onde reina a humildade, Clementino se apresenta na figura de Pretinho Velho para ajudar os que buscam a cura da alma.

O TREM DA VIDA


Há algum tempo atrás, li um livro que comparava a vida a uma viagem de trem. Uma leitura muito interessante, quando bem interpretada. Isso mesmo, a vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros.

Quando nascemos entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que julgamos que estarão sempre conosco: nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade, em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos no cominho, amizade e companhia insubstituível... Mas isso não impede que durante a viagem, pessoas interessantes e que virão a ser mais que especiais para nós embarquem. Chegam nossos irmãos, amigos e amores maravilhosos.Muitas pessoas tomam esse trem apenas a passeio. Outros encontrarão nessa viagem somente tristeza. Ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas, outros tantos passam por este trem de forma que , quando desocupam seu acento, ninguém sequer percebe. Curioso é perceber que alguns passageiros que nos são tão queridos, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos, portanto somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não impede, é claro, que durante o percurso, atravessemos, mesmo que com dificuldades, o nosso vagão e cheguemos até eles... só que, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado para sempre.

Não importa, a viagem é assim, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperanças, despedidas... porém, jamais retornos. Façamos essa viagem, então da melhor maneira possível, tentando nos relacionar bem com todos os passageiros, procurando, em cada um deles, o que tiverem de melhor, lembrando sempre que em algum momento do trajeto, eles poderão fraquejar e provavelmente precisaremos entender, pois nós também fraquejamos muitas vezes e, com certeza, haverá alguém que nos entenderá. Eu me pergunto se quando eu descer desse trem sentirei saudades... acredito que sim. Separar-me de algumas amizades que fiz será, no mínimo, dolorido.

Deixar meus filhos continuarem a viagem sozinhos será muito riste, mas me agarro à esperança de que em algum momento, estarei na estação principal e terei a grande emoção de vê-los chegar com uma bagagem que não tinham quando embarcaram... e o que vai me deixar mais feliz será pensar que eu colaborei para que ela tenha crescido e se tornado valiosa.O grande mistério, afinal, é que jamais saberemos em qual parada desceremos, muito menos nossos companheiros, ou até aquele que está sentado ao nosso lado. Façamos com que a nossa estada nesse trem seja tranqüila, que tenha valido a pena e que, quando chegar a hora de desembarcarmos, o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem a viagem da vida
.

domingo, 15 de janeiro de 2012

LEI DE CAUSA E EFEITO


 "A terceira lei de Newton é denominada, às vezes, a lei de interação. (...) Usam-se, freqüentemente, as palavras 'ação' e 'reação' na discussão da terceira lei de Newton.(...) O ponto importante é o da ocorrência das forças sempre em pares ação-reação, e o de a força reação ter o mesmo módulo, a mesma direção e sentido oposto à força ação" (Paul A. Tipler, "Phisics for Scientists and Engineers", 3rd. Edition) A definição científica, física, do processo de interação entre dois corpos materiais é bem clara. Quando um elemento material interage com o outro, provocando nele uma força, sofre, automática e instantaneamente uma força contrária de mesma intensidade. Se tal não ocorresse, não haveria a sustentação de objetos materiais em decorrência da reação do peso e mesmo os átomos de um elemento físico se desagregariam, já que se mantém unidos eletricamente pela força de atração entre os pólos contrários de suas partículas formadoras. Em suma, a matéria que conhecemos seria uma massa disforme. O sentido de nossa conversa, no entanto, não é um sentido puramente material, mas da existência do homem enquanto espírito. O que chamamos "Ação e Reação" espirituais é o comportamento do próprio homem perante as Leis de Deus, que são perfeitas e imutáveis no Universo. O Espiritismo nos fala de ação e reação sempre no sentido das vidas materiais sucessivas, sempre no sentido do espírito imortal, nunca somente do homem carnal. O espírito tem a liberdade de ação. Se essa liberdade de ação é utilizada de maneira equivocada, será natural que, optando por "chocar-se" com as leis de Deus seja colocado em situação de enxergá-las de melhor modo. Em "O Livro dos Espíritos", questão 807 lemos: "Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?", ao que os espíritos respondem: "Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão numa existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros." Quanto ao comportamento em relação aos adversários, Jesus nos alerta: "Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. - _Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil. (Mt, 5:25s) Em comentário à questão anterior, Allan Kardec em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Capítulo X, item 6, nos fala: "(...) Não saireis de lá, da prisão, enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não houverdes satisfeito completamente a justiça de Deus." O sentido de punição, no entanto, deve ser retirado de nossas mentes. O aprendizado, ao espírito imortal, é urgente e precisa se fazer. O meio por que esse aprendizado irá sensibilizar o espírito é escolha própria dele. Aprender o valor do bem, às vezes, passa por aprender o valor do mal, valor esse que não pode ser sentido, por vezes, a não ser que fira o próprio espírito, que desmanche o próprio orgulho. Daí as circunstâncias criadas aparentemente por punição, mas que sempre encerram a sabedoria de Deus em ocasiões de o espírito se melhorar, sentir que errou e procurar o acerto, pelo meio da dor refazedora. A respeito de um caso que nos servirá de exemplo, no livro "O Céu e o Inferno", Capítulo VIII, "Expiações Terrestres", Allan Kardec estuda o caso de um menino que ele descreve: "Havia num hospital de província um menino de 8 a 10 anos, cujo estado era difícil precisar. Designavam-no pelo nº 4. Totalmente contorcido, já pela sua deformidade inata, já pela doença, as pernas se lhe torciam roçando pelo pescoço, num tal estado de magreza, que eram pele sobre ossos. O corpo, uma chaga; os sofrimentos, atrozes. Era oriundo de uma família israelita. A moléstia dominava aquele organismo, já de oito longos anos, e no entanto demonstrava o enfermo uma inteligência notável, além de candura, paciência e resignação edificantes. (...)". O menino em questão veio a desencarnar nessas condições, dando, depois, na Sociedade Espírita de Paris, a comunicação da qual extraímos algumas partes, mas que está integral no livro citado. "(...)asseguro-vos que todo sofrimento tem uma causa justa. Aquele a quem conhecestes tão mísero foi belo, grande, rico e adulado. Eu tivera turiferários e cortesãos, fora fútil e orgulhoso. Anteriormente fui bem culpado; reneguei Deus, prejudiquei meu semelhante, mas expiei cruelmente, primeiro no mundo espiritual e depois na Terra. Os meus sofrimentos de alguns anos apenas, nesta última encarnação, suportei-os eu anteriormente por toda uma existência que ralou pela extrema velhice. Por meu arrependimento reconquistei a graça do Senhor, o qual me confiou muitas missões, inclusive a última, que bem conheceis. E fui eu quem as solicitou, para terminar a minha depuração_. (...)" (Marcel, 'o menino do número 4') Para finalizar, o próprio espírito Marcel nos fala sobre o papel imenso que o conhecimento da lei de causa e efeito que o Espiritismo faculta, como esse conhecimento pode ajudar a consolar e instruir àqueles que sofrem. "(...) Por minha vez, também me compete dizer algo sobre o progresso da vossa doutrina, que deve auxiliar em sua missão os que entre vós encarnam para aprender a sofrer. O Espiritismo será a pedra de toque; os padecentes terão o exemplo e a palavra, e então as imprecações se transformarão em gritos de alegria e lágrimas de contentamento." (Marcel) Os espíritos, analogamente à matéria, sofrem interações entre si, interações que precisam de equilíbrio de forças de ação e de reação. Esse equilíbrio, chamado respeito mútuo, vem da dupla vivência: conhecimento da realidade espiritual e crescimento moral de doação e entendimento. Só então, pelo equilíbrio, a humanidade irá progredir verdadeiramente em direção a Deus. (t)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

ANIMISMO

Martins Peralva

Revestem-se de profunda sabedoria e oportunidade as palavras do Assistente Àulus, no capitulo «Emersão do passado», quando afirma que muitos espíritos «vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem».
Efetivamente essa é a verdade.
Muitos companheiros se mostram incapazes de remover os obstáculos criados pelo animismo, destruindo, assim, magnífica oportunidade de ajudarem elementos que, buscando os centros espíritas nessas condições, poderiam, posteriormente, contribuir em favor dos necessitados.
Que é Animismo?
Essa pergunta deve ser colocada em primeiro plano, no presente capítulo, como ponto de partida para as nossas singelas considerações.
Animismo é o fenômeno pelo qual a pessoa arroja ao passado os próprios sentimentos, «de onde recolhe as impressões de que se vê possuída».
A cristalização da nossa mente, hoje, em determinadas situações, pode motivar, no futuro, a manifestação de fenômenos anímicos, do mesmo modo que tal cristalização ou fixação, se realizada no passado, se exterioriza no presente.
A lei é sempre a mesma, agora e em qualquer tempo ou lugar.
Muitas vezes, portanto, aquilo que se assemelha a um transe mediúnico, com todas as aparências de que há a interferência de um Espírito, nada mais é do que o médium, naturalmente o médium desajustado, revivendo cenas e acontecimentos recolhidos do seu próprio mundo subconsciencial, fenômeno esse motivado pelo contato magnético, pela aproximação de entidades que lhe partilharam as remotas experiências.
No fenômeno anímico o médium se expressa como se ali estivesse, realmente, um Espírito a se comunicar.
O médium nessas condições deve ser tratado «com a mesma atenção que ministramos aos sofredores que se comunicam» .
Por isso, a direção de trabalhos mediúnicos pede, sem nenhuma dúvida, muito amor, compreensão e paciência - virtudes que, somadas, dão como resultado aquilo que os instrutores classificam como «TATO FRATERNO», a fim de que não sejam prejudicados os que em tais condições se encontram.
Se o dirigente de sessões mediúnicas não é portador de sincera bondade, acreditamos que pouco ou nenhum benefício receberá o médium no agrupamento.
O médium inclinado ao animismo é um vaso defeituoso, que «pode ser consertado e restituído ao serviço», pela compreensão do dirigente, ou destruído, pela sua incompreensão.
Reajustado, pacientemente, com os recursos da caridade evangélica, pode transformar-se em valioso companheiro.
Incompreendido, pode ser vitimado pela obsessão.
Nos fenômenos psíquicos, comuns nos agrupamentos mediúnicos, há, por conseguinte, de se fazer a seguinte distinção:
  1. Fatos anímicos
  2. Fatos espiríticos
Fatos anímicos são, como já acentuamos, aqueles em que o médium, sem nenhuma idéia preconcebida de mistificação, recolhe impressões do pretérito e as transmite, como se por ele um Espírito estivesse comunicando.
Fatos espiríticos ou mediúnicos, propriamente ditos, são aqueles em que o médium é, apenas, um veículo a receber e transmitir as idéias dos Espíritos desencarnados ou. ... encarnados.
O estudo e a observação ajudam-nos a fazer tal distinção.
Uma pessoa encarnada também pode determinar uma comunicação mediúnica, isto é, fazer que o sensitivo lhe assimile as ondas mentais e as reproduza pela escrita ou pela palavra.
Em face da lei de sintonia, pessoas adormecidas igualmente podem provocar comunicações mediúnicas, uma vez que, enquanto dormimos, nosso Espírito se afasta do corpo e age sobre terceiros, segundo os nossos sentimentos, desejos e preferências.
Voltemos, porém, às considerações em torno da necessidade de os dirigentes e colaboradores do setor mediúnico se munirem de recursos evangélicos, a fim de que as tarefas assistenciais, a seu cargo, apresentem aquele sentido edificante e construtivo que é de se almejar nas atividades espiritistas cristãs.
Vejamos a conclusão de André Luiz, ante as ponderações de Àulus e o exame do caso da senhora objeto da assistência do grupo do irmão Raul Silva:
«Mediúnicamente falando, vemos aqui um processo de autêntico animismo. Nossa amiga supõe encarnar uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma.»
A fixação mental - assunto abordado no capitulo próprio, neste livro - provoca o animismo.
Imaginemos, agora, o que pode ocorrer se uma criatura em tais condições busca um núcleo mediúnico onde apenas funciona o intelectualismo pretensioso, seguido da doutrinação periférica, sem o menor sentido de fraternidade!
Ao invés de compreensão, tal criatura encontrará, sem dúvida, a ironia e a má vontade, acompanhadas, via de regra, do comentário maledicente.
Ao invés de companheiros interessados no seu reajustamento, encontrará verdugos fantasiados de doutrinadores.
Ao invés do socorro que se faz indispensável, ver-se-á defrontada, impiedosamente, por companheiros, às vezes até bem intencionados, que, em nome da «verdade», ou melhor, das «suas verdades», não lhe compreenderão o aflitivo problema.
Ouçamos o Assistente Àulus:
«Por isso, nessas circunstâncias, é preciso armar o coração de amor, a fim de que possamos auxiliar e compreender. Um doutrinador cem TATO FRATERNO apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno, ao invés de socorro providencial. Primeiro é preciso remover o mal, para depois fortificar a vitima na sua própria defesa.»
O doutrinador usará sempre do carinho fraterno, fazendo que as suas palavras, dirigidas ao espírito do próprio médium, levem o melhor que a sua alma prosa oferecer.
A consolação e a prece, seguidas do esclarecimento edificante, são os recursos aplicáveis ao caso.
Recorramos ao livro «Nos Domínios da Mediunidade», reproduzindo-lhe alguns tópicos relativos ao assunto:
«Solucionados diversos problemas alusivos ao programa da noite, eis que uma das senhoras enfermas cai em pranto convulsivo, exclamando:
- Quem me socorre? quem me socorre ?!...
E comprimindo o peito com as mãos, acrescentava em tom comovedor:
- Covarde? porque apunhalar, assim, uma indefesa mulher? serei totalmente culpada? meu sangue condenará o seu nome infeliz...»
Lembremos que André Luiz e Hilário, em companhia do assistente Àulus, visitam o grupo dirigido pelo irmão Raul Silva, e que a cena acima descrita aparece no capitulo «Emersão do passado».
Notemos que todos os indícios revelam, à primeira vista, as características de uma comunicação mediúnica; Contudo, estamos apenas diante de um autêntico fenômeno de animismo.
A senhora enferma, com a mente cristalizada no pretérito, identifica-se com cenas desagradáveis, às quais está diretamente ligada.
«Ante a aproximação de antigo desafeto, que ainda a persegue de nosso plano, revive a experiência dolorosa que lhe ocorreu, em cidade do Velho Mundo, no século passado.»
É ainda Àulus quem explica:
«Sem dúvida, em tais momentos, é alguém que volta do pretérito a comunicar-se com o presente, porque, ao influxo das recordações penosas de que se vê assaltada, centraliza todos os seus recursos mnemônicos tão somente no ponto nevrálgico em que viciou o pensamento. Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque; entretanto, para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo AMPARO MORAL E CULTURAL para a renovação intima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo.»
Esse amparo moral, a que alude o Assistente, podemos defini-lo como paciência, carinho e consolo.
O cultural ser-lhe-á ministrado pelo estudo evangélico e doutrinário que, além do esclarecimento, operar-lhe-á a modificação dos centros mentais, reajustando-lhe a mente.
E, concluindo, é oportuno perguntemos :
Podem os serviços mediúnicos prescindir do Evangelho e da Doutrina?
A resposta cada um a encontrará na própria consciência...
(Retirado de "Estudando a Mediunidade" - FEB)