quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O que o Espírito Sente Quando Ainda está Ligado Fluidicamente ao Corpo

 Deuza Nogueira

Rio de Janeiro


Quando falamos em percepção dos espíritos após a desencarnação, estando ainda fluidicamente ligados ao corpo físico, não podemos esquecer o quanto as impressões da vida material reagem sobre o espírito.
Se uso um anel durante certo tempo e em determinado dia deixo de usá-lo sentirei grande falta e perceberei "a marca do uso" em meus dedos. Se eu uso um agasalho durante algumas horas, ao retirá-lo, demorarei alguns minutos para me acostumar com a ausência do mesmo.
Imaginemos, então, o que sucede com a "marca do uso" deixada no espírito pela freqüência da utilização do corpo físico. Nós gostamos, usamos, nos acostumamos e nos confundimos tanto que chegamos a pensar que somos o corpo.
Logo, será muito natural que o desligamento automático funcione ainda em regime de exceção em nosso planeta. Nós, espíritos imortais, ligamo-nos ao corpo através de laços, fios magnéticos que funcionam como grandes centros de forças condutores das sensações de um ponto a outro.
Em nossa vida, pelo gosto de viver, pelo apego que cultivamos ao próprio envoltório material, estreitamos muito os citados laços, que só são afrouxados em situações em que a atividade orgânica é minimizada: sono físico, doenças, meditação, grandes emoções ou choques em que a atenção da criatura é desviada do próprio interesse de sobrevivência.
Assim, a desencarnação não significa um desligamento rápido do corpo nem dos aspectos relacionados ao mesmo. Na Natureza, o espírito de seqüência é lei. Logo, o desligamento vai se processando paulatinamente, exceção feita às mortes bruscas em que os laços fluídicos são como que arrancados, fato que causará sempre um grande desconforto ao espírito.
Nos casos, portanto, de desencarnação por processos naturais observamos que os laços são desatados à medida que o corpo vai morrendo, gerando o esfriamento das extremidades, o entorpecimento dos sentidos físicos, a falta de comando sobre o próprio corpo, o descontrole das funções vitais.
Neste momento, o espírito possui liberdade para optar: permanecer apegado, vivenciando todo o processo da desorganização do organismo ou relaxar diante do inevitável e observamos que, em alguns casos, o próprio espírito ajuda a desatar determinadas ligações fluídicas. (t)

Perguntas/Respostas:

É sempre muito conturbado o desligamento do espírito após a morte do corpo físico?
Não. O processo ainda não é tão simples, devido ao nosso estágio de compreensão. Contudo, à medida que vamos entendendo os processos da vida e os mecanismos da desencarnação, poderemos nos trabalhar para este momento, criando, desde agora, hábitos saudáveis de vida mental. (t)
O que seriam estes “hábitos saudáveis de vida mental”? Seriam os conceitos da "Saúde Holística"?
Sabe aquela antiga recomendação de Jesus: "Viver no mundo sem ser do mundo"?
É termos a consciência de que somos espíritos usufruindo algum tempo na vida física, com todos os bens que ela nos oferece, mas que a nossa natureza é a espiritual. E, por mais que amemos o próprio corpo, pessoas, coisas e situações, não poderemos "carregar" ou "sobrecarregar" nossa “economia” com estes elementos, porque, senão, ao invés do enriquecimento pela experiência, estaremos nos ligando a grilhões demasiadamente pesados, que nos impedirão o vôo rumo à nossa própria natureza.
Daí a necessidade de vivermos intensamente a vida, conscientes de que o mais importante não é a coisa em si, mas as marcas da experiência libertadora, prazerosa, agradecida que ficarão gravadas em nosso ser. Isto fará com que construamos uma mudança do ponto de vista em relação à vida material e suas conseqüências. (t)
Por que o espírito, quando muito apegado às coisas materiais por toda a vida física, é de praxe que sinta a decomposição do corpo físico após a morte deste?
Jesus um dia falou que onde estivesse o nosso tesouro, ali estaria o nosso coração.
Ora, se temos como único referencial para o ato de existir a vida física, todos os nossos sentimentos, pensamentos, vontade e emoções estarão confinados neste tesouro, que, em momento algum, desejaremos abandoná-lo.
Assim, somos nós mesmos que QUEREMOS assistir a todos os fatos que envolvem nosso grande e único tesouro: o corpo físico. (t)
Divaldo P. Franco diz que morrer e desencarnar são coisas completamente diferentes. Você concorda com isso?
No dizer de Divaldo, morrer indica a cessação da vida orgânica e desencarnar seria o desligamento de todas as circunstâncias da vida material, inclusive do próprio corpo.
No caso do suicida, observamos que o corpo já está morto, mas o espírito ainda experimenta todas as sensações que ocorrem com ele, como se ainda estivesse encarnado. (t)
O espírito pode ter sensações como uma "segunda morte", por sentir uma necessidade exacerbada de comer, beber, tomar banho, etc.?
Para quem entende a satisfação das necessidades da vida material como único meio de vida, a recordação destas necessidades serão atordoantes e, dependendo do merecimento e da situação mental do espírito, poderão ser sentidas como uma "segunda morte". (t)
Os espíritos quando estão próximos ao desencarne sofrem algum aviso, ou alguma preparação anterior pela espiritualidade?
Depende do espírito. Poderemos ver duas questões:
A primeira está ligada ao preparo do espírito. É a chamada maturidade do senso moral a que se refere "O Evangelho Segundo o Espiritismo";
A segunda está ligada aos fatores merecimento e utilidade.
O espírito pode merecer, mas este conhecimento pode não ter nenhuma utilidade para a “economia” da alma. Por isso é que esta informação é sempre um tanto quanto vaga, imprecisa, para que o espírito não venha a tomar decisões precipitadas ou apavoradas, em virtude da sua desencarnação.
Afinal, uma coisa é certa: todos iremos desencarnar em algum momento. (t)
Como é o impacto que sente o espírito, quando desligado do corpo físico, através do sofrimento de seus entes queridos?
Nós vivemos em grupos, onde estabelecemos ou revivemos relações afetivas. Em pouco tempo, através do convívio, aprendemos a registrar e agir dentro do estímulo que o outro nos oferece. Imaginemos, então, o "banho" de sofrimento enviado por um ser querido!
É preciso ser bem superior para ajudá-lo através da certeza da imortalidade da vida sem envolver-se e sentir-se prejudicado, revoltado pelo afastamento temporário. (t)
O simples fato da não aceitar que haja uma vida ativa após à morte pode dificultar o espírito a se desprender do corpo?
Sim. Se a criatura tem como único referencial a vida material, logicamente, ela não desejará se desprender daquilo que ela considera como seu único bem. Logo, ficará ligada ao corpo físico até a última "gota" de fluido vital e após este fato ainda permanecerá mentalmente ligada a ele. (t)
Quanto tempo de espera deve se dar antes de cremar um corpo, sabendo-se que nem sempre o espírito se desprende imediatamente do corpo, sem necessariamente ser inferior?
Existe um dispositivo legal em que o corpo fica 48 horas até a cremação.
Observamos que esta lei foi inspirada pelos benfeitores espirituais, pois a grande realidade é que ainda não conseguimos detectar nosso grau de apego e ligação magnética com o corpo físico, daí a grande necessidade da oração, das palavras de estímulo ao espírito que está ingressando na vida espiritual. (t)
Mas a cremação pode afetar o espírito de alguma maneira?
Se o espírito estiver muito ligado ao corpo físico vai doer e a sensação de dor, como já estudamos, é um registro arquivado no espírito. Não podemos desconsiderar, porém, a grandiosidade da misericórdia Divina, o trabalho abnegado de trabalhadores espirituais e do próprio guia do desencarnante, para que o processo seja o mais ameno possível. (t)
Esse tempo é satisfatório na visão espírita?
Chico Xavier informa-nos que 72 horas seria o tempo ideal, mas 48 horas com oração, equilíbrio emocional e fé na vida futura, com certeza, promoverão a mobilização das grandes equipes socorristas responsáveis pelo processo de desencarnação para que tudo corra bem. (t)
O livre arbítrio é absoluto?
O livre-arbítrio é um instrumento da perfeita lei de Deus. Logo, ele será relativo ao grau de desenvolvimento e aperfeiçoamento do espírito. Ninguém forneceria absoluta liberdade de escolha a um bebê recém-nascido, como não tolheríamos a liberdade do homem adulto de caráter nobre. Imaginemos Deus através da perfeição da sua Lei. (t)
E no caso da doação de órgãos se passaria o mesmo como na cremação? Ou pelo fato da doação ser um ato de amor o espírito não passa pro privações?
No caso da doação de órgãos, por ser um ato de amor, temos a certeza que os espíritos ligados à doação de amor estarão durante todo o tempo amparando a família e o próprio doador. Há na literatura espírita (não me recordo exatamente a obra) o caso do jovem que foi o primeiro doador de um coração para o primeiro transplante.
É belíssima a atitude de socorro magnético e esclarecimento espiritual que o jovem recebe, liberando-o de toda a dor e desconforto que seriam normais nestes casos. (t)
não haveria uma contradição em termos, com relação ao “livre-arbítrio”?
A Lei Divina existe para a felicidade do homem. Ela não tem um caráter punitivo. Assim, o homem totalmente livre cometeria desmandos que acarretariam grandes sofrimentos. A limitação do livre-arbítrio ao grau do desenvolvimento e entendimento do espírito é como se fosse uma "conspiração ao acerto".
Logo, o espírito terá o material exato para o seu progresso no momento certo, mas, mesmo assim, pode desviar, usar mal, jogar fora esta oportunidade. Nisto consiste seu livre-arbítrio. (t)